Pois que derrotamos as trevas e provamos em definitivo que as urnas eletrônicas são mais seguras do que a nossa dupla de zaga, tá na hora de já ir, já ir me preparando para superar meus desafios íntimos de final de ano, sempre os mesmos, antigos e, para o cansado cronista aqui, difíceis de engolir: o especial do rei, uvas-passas (assim mesmo, edição) a Simone perguntando “Então, é Natal, e o que você fez?” e o panetone de frutas cristalizadas.
Pessoas a quem jamais tenha feito mal nenhum com frequência me oferecem uvas-passas. Respiro fundo e… passo. Um parente, assistindo ao especial do Roberto, em algum momento, vai me cutucar e dizer: “o cara é o Rei, né? (emoji com olhinhos pra cima). Panetone de frutas cristalizadas a gente sabe, é uma realidade que precisamos encarar, acha-se em qualquer boteco. “Ai, mas prova pra ver se tu gosta”. Depois do rabanete em conserva não caio mais nessa.
Agora, a pergunta da Simone, essa pergunta da Simone… fica ecoando aqui, “e o que você fez?… “. Nesse contexto pós-apocalíptico, soa até como um desaforo. Fiz das tripas morcilha preta, me esgualepei desde o dia primeiro de janeiro, matei uma leoa e dez hienas por hora, escapei de vírus, desviei dos mínions, mantive a sanidade e os boletos em dia… Tá, umas coisas mais, outras um pouco menos.
Me vem a Simone lembrar que “o ano termina e nasce outra vez …”. Os defensores da família e dos bons costumes tocando o terror, ainda acampados em frente aos quartéis, paralisando estradas e botando fogo em Brasília, “e o que você fez?”. Daí sempre aparece alguém, do nada, sorrindo com uma fatia imensa de panetone de frutas cristalizadas com uvas-passas, e eu penso, “Então, bom Natal e um Ano Novo também, que seja feliz quem, souber o que é o bem”. E abro uma Fanta.