– Mas faz quanto tempo que você aguenta isso, criatura?
– Vixx, vai fazer mais de dez anos. Só sobrevivi até agora com esses coquetéis todo santo dia.
– E será que não tem jeito, mesmo?
– Olha, já tentei de tudo, sabe, daqui a pouco não tem mais volta. E eu já tô ficando é cansada dessa situação. Às vezes penso em acabar eu mesma com isso.
– Cruzes, não fala assim, se acalma. Não vai cometer nenhuma loucura. Pensa em tudo que já suportou até agora. Pensa nas crianças, como vão ficar as crianças?
– As crianças vão ficar bem. Já estão entendendo tudo. Acho quer vai ser até melhor pra elas, sabe?
– Não diz isso, mulher. Uma coisa dessas nunca é boa pra ninguém. Seria uma barra pra todo mundo.
– É, mas, não tem solução. É muito agressivo, entende? Os doutores deram mais uns seis meses no máximo. Vou partir dessa pra uma melhor. Ou pra nenhuma. Vai saber?
– Sei não, sei não, eu tenho esperança que vai se recuperar.
– Esquece. Não vou tentar mais nenhum tratamento. Tô cansada. Não quero mais atrapalhar a vida de ninguém. É assim que eu me sinto. Só quero que termine logo, sem dor, entende? Era só isso que eu queria. Rápido e sem trauma.
– Quem sabe uma terapia mais forte. Um esforço em conjunto. Já vi casos, sem esperança nenhuma, que conseguiram se recuperar e hoje levam uma vida super normal.
– Isso só acontece em novela. Tô te dizendo, amiga, é doloroso, só quem vive uma situação assim entende o que eu tô falando. Vai corroendo tudo por dentro. Não sobra nada.
– E ele. Como ele tá?
– Ele já vem se preparando pra isso quando soube que o meu caso era sério. Acho até que vai ficar aliviado assim que eu me for. Vai descansar também, coitado…
– Ó, lá vem eles.
– Disfarça, disfarça.
– Do que vocês estão falando aí, com essas carinhas?
– Coquetéis, amor, coquetéis. Garçom, outro pra mim, por favor!