– Seu nome?
– Valdisney.
– Humm, gozado…
– Mamãe era tarada por desenho animado.
– Entendo. Sua profissão?
– Professor de língua portuguesa.
– Que máximo! Sintaxe em casa.
– Agradeço. Fiquei todo prosa porvir aqui.
– Como nos confessou Caetano, o senhor também gosta de sentir a sua língua roçar na língua de Luís?
– Olha, evito, gosto mais do vernáculo duro.
– Tá certo. Alguma dica para argumentar com um verbo intransitivo?
– O verbo intransitivo não precisa de complemento, então ele é individualista mesmo, acho meio escroto.
– Com que tipo de verbo ou pronome o senhor se relaciona?
– Pimenta no tu dos outros é refresco, né? Prefiro me relacionar com verbos de ligação.
– Entendi… onde o senhor, por exemplo, pode fazer uma ligação do caso reto?
– Pode ser. Se bem que não cabe neste caso um objeto direto.
– É porque o senhor está tenso, se relaxar cabe…
– Mas carece de um complemento.
– Não é bem assim, o senhor tá querendo fazer duas ligações, daí dói, tem que ir aos pouquinhos, aproveitar os hiatos.
– É que precisaria de um verbo bitransitivo, entende?
– Olha, não seja por isso, tenho vários verbes amigues, posso lhe apresentar.
– Me sinto honrado, mas vou declinar.
– E o exame de próclise, já fez, gostou?
– Re-comendo.
– Com a sua experiência, me diga, é recomendável o menage com substantivos coletivos?
– Abandonei as paradas sociolinguísticas.
– Reconstituição de hífen, contra ou a favor?
– Essa é uma questão de foro íntimo.
– Pra acabar no clímax. O brasileiro não usa muito KY, o senhor usa?
– Só quando aperta o asterisco.
*texto publicado na revista RUBEM.
https://rubem.wordpress.com/2024/04/25/pinga-fogo-tiago-maria/
25/04/2024