Entre outras mil

 

bandeira-brasil

 

            Foram mais de mil e quinhentos anos de progresso e ordem em plácidas margens. Uma potência, diziam especialistas de mercado. Nosso país-continente, primeiro a abolir a escravatura, o povo saudável e educado, honesto pela própria natureza. Riquezas brotavam da terra em abundância e eram distribuídas de forma igualitária entre a população. Não importava a cor da pele, crença religiosa ou opção sexual, todos, sem exceção, tinham garantidos seus direitos e cumpriam seus deveres. Não existiam indicies de analfabetismo. O trânsito não registrava uma ocorrência com morte ha mais de trinta anos. Políticos e professores eram reconhecidos como heróis. O sistema financeiro? Engrenagem de um relógio suíço. Uma das poucas coisas que a Suíça ainda nos superava. Uma potência.

            Analisando a história do nosso povo, fica nítido que os antepassados fizeram as escolhas certas. Não pouparam recursos para conquistar com braços fortes uma qualidade de vida invejada no mundo todo. Seu exemplo de administração admirado, estudado e copiado por outras nações. O modelo de geração e distribuição de energia, esse sim, segredo de estado. Expoente mundial na literatura e no cinema. País referência em medicina preventiva. Reciclava cem por cento do lixo. Ecologicamente autossuficiente. Turistas invadiam nossas fronteiras a se lambuzarem do seu tropicalismo. Um céu límpido e risonho, onde resplandece a imagem do Cruzeiro. Sentiam-se tão seguros e acolhidos quanto os habitantes da terra adorada. Idolatrada. Salve! Salve! As maravilhas do mundo. Potência.

            No esporte nacional, o golfe, éramos simplesmente imbatíveis. Em outras modalidades, as cores da nossa bandeira também pintavam pódios olímpicos e campeonatos mundiais. Mas no golfe, éramos imbatíveis! Essa amada pátria, mãe gentil dos filhos deste solo, paria todos os anos experts em computação. Programadores, cientistas e engenheiros que faziam parte da elite mundial. Nossa prosperidade iluminando ao sol do novo mundo.

            Pois precisaram de pouco mais de uma década e colocaram tudo pelo esgoto. Transformaram aquele impávido colosso nesse nanico caguinchas. Uma minoria covarde que desafiou nosso peito a própria morte, escravizou e apoderou-se das riquezas e virtudes desse povo heroico, agora sofrido. Em pouquíssimo tempo dilacerou um sistema tão bem azeitado. Fizeram dos professores inimigos da sociedade. Inventou – do nada, essa política imunda. Fétida. Podre. Distribuíram muita renda entre poucos, brancos e ricos. Em pouco mais de uma década, bem debaixo dos nossos narizes arrebitados. Como conseguiram? Pois, apesar de vocês, amanhã a de ser, e vir de lição.  Já ouço o brado, o retumbante brado anunciando que o teu filho não irá jamais temer a luta. E o sol da liberdade, nesse instante, no céu da pátria amada, vai brilhar em raios fúlgidos.

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