Aumentou a taxa de energia elétrica. Gasolina a quase cinco reais o litro. Desemprego, violência e restrições. Meu time não vence, não o vi, acho até que nem veio. É ano eleitoral. Tem copa do mundo outra vez. E eu aqui, a escrever pra vocês.
Vamos quase em maio de dezoito. Minha barba já ganha um salpicado de prata. A maior faz dezenove, a do meio faz dez, a caçula cinco e a mais velha, quarenta. Só pode ser insensatez. Eu aqui, a escrever pra vocês.
Tenho um cano entupido na pia e uma lâmpada que deu os doces no banheiro. Preciso pendurar dois quadrinhos sob o aparador. Trocar o óleo do carro. Entregar um trabalho de filosofia até o fim deste mês. Só que eu tô aqui, a escrever pra vocês.
Podia gritar meu discurso. Desdizer as palavras benditas. Expor na oratória esse meu destempero. Falar-te ao pé do ouvido. Explicar em mensagem de voz. Não o faço. Pura timidez. Eu, aqui, a escrever pra vocês.
Miro en la ventana. Faz chuva lá fora. Não sinto fome. Um cigarro cairia bem, não fosse tão brega fumar e fosse eu um fumante. É sede que me consome. Na agulha, trinta e três rpm, toca Chico e Pablo Milanés. Aqui, eu, a escrever pra vocês.
Comecei foi ontem. Parece que a coisa vai longe. Uso as manhãs com leituras. As tardes em busca do tema. É tarde quando eu o encontro, já passa das três. E olha eu aqui, todavia, a escrever pra vocês.
Ainda nesse mesmo hoje, foi festa da confraria. Cascatas de espumante. Misturei uma vodca russa com vinho do Porto e uísque escocês. Agora, eu (ic!), eu tô aqui… mas o quê que eu tô fazendo aqui (ic!), mesmo?