Matam uma a cada trinta e seis horas. Soco, pontapé e tapa na cara. Uma a cada trinta e seis horas. Bala, faca e paulada. A cada trinta e seis horas. Ateiam fogo, amputam membros, esmagam ossos. Trinta e seis horas.
Morre uma a cada trinta e seis horas. Asfixiada, de hemorragia interna, o pescoço quebrado. Uma a cada trinta e seis horas. Traumatismo craniano, estrangulada, a golpes de facão. A cada trinta e seis horas. Um atropelamento, um afogamento, um envenenamento. Trinta e seis horas.
Agoniza uma a cada trinta e seis horas. Sob tortura, física e psicológica. Uma a cada trinta e seis horas. Convulsiona, cospe sangue, é violada. A cada trinta e seis horas. Pede ajuda, desfalece, não resiste. Trinta e seis horas.
Perdemos (todos) uma a cada trinta e seis horas. Nas favelas, nos condomínios, em coberturas. Uma a cada trinta e seis horas. Filhas de alguém, mães de alguém, donas de si – amparadas por quem? A cada trinta e seis horas. Amam, arrependem-se e morrem. Trinta e seis horas.
Que hora termina?
Tiago, pungente. Lembrou-me Vinícius, e suas belas dores. Parapenz!
Obrigado, Rubem.
Lamentável…