Seu Tarugo não era, digamos, assim, um cidadão muito polido. Não lhe cabiam muitas frescuras, como ele mesmo garantia. O máximo do desvio de conduta foi uma casca de bergamota no chimarrão e olhe lá. Nem gato nem criança pequena dormindo o comoviam. Daqueles que devolvem a bola com talho de faca quando cai no pátio. A sensibilidade abaixo de zero, congelada.
Isso até o dia em que percebeu, na janela do seu banheiro, um pequeno cacto, espinhoso, ressequido, áspero e atarracado. Identificou-se de imediato. Aquela plantinha solitária podia muito bem compreender a aridez com que a vida tratou de colocar os dois a comungarem das mesmas angústias, sofrendo com os mesmos espinhos, no mesmo minúsculo “quarto de banho” – palavras do seu Tarugo.
E o homem amolecia falando com o mini arbusto. Dizem que ao conversar com as plantas elas revigoram. E, aos olhos do seu Tarugo, estava mesmo mais viçosa, mais encorpada, com um verde mais vivo. O carinho com que ele tratava a plantinha todo o santo banho era comovente. Como quem rega a infância de um filho. O próprio seu Tarugo oferecia-se à vida com muito mais cor e viço. Radiante. Aprazerado.
Acontece que naquela tarde – naquela trágica e espinhosa tarde – naquele minúsculo “quarto de banho”, foi como se um zíper lhe fechasse do calcanhar até a nuca: um choque. Quem seria capaz de tamanha violência? Ceifar a natureza dessa forma, como que propósito? Aquilo não ficaria assim…
– Ô Nerza, cadê a plantinha daqui que eu regava todos os dias, tratava com tanto cuidado, tanto carinho, agora que ela já tava ganhando corpo, cadê, Nerza?
– Ué! Era de plástico, depois te compro outra.