Madú

“Enquanto isso, na sala do sopro da vida. Papo de Anjo…”

– Não se esqueça dos lábios, têm que ser um bocão, assim, bem desenhadinha e carnuda.

– Sim, sim, já fiz o preenchimento e os retoques nos cantinhos, quando ela  sorrir  vai aparecer a covinha.

– E os cabelos, o que eu faço?

– Deixa tipo normal, depois ela vai querer trocar mesmo. Mas cobre o corpinho de pelos. O Chefe diz que já evoluímos dessa fase, mas eu acho uma graça…

– O nariz é pra usar a mesma forma do pai, né?

– Isso. Mas dá uma suavizada, não exagera.

– Certo. E as sobrancelhas?

– Naturais, pelo amor do Chefe! Não me inventa de por aquelas sobrancelhas da Nike …

– Tá certo, tá certo…

– Os pezinhos?

– Perfeitos, duas bisnaguinhas. Mas é o que eu te disse, vão crescer e podem ficar do tamanho dos da mãe, tudo bem?

– É… vai se acostumar.

– Orelhas, iguais as da mãe também?

– É… dá uma atenção especial aí.

– Bochechas, ok?

– Ah, põe um cadinho mais, pra absorver os amassamentos.

– Olhos…

– Curiosos. Expressivos. Não precisam ser de ressaca, à la Machado, mas ponha neles a mesma argúcia do olhar da mãe e a calmaria prudente que reflete na luz dos olhos do pai.

– Temperamento…

– Põe aí: em formação. Melhor não contrariar a mãe…

– Ok.

– Anjos da guarda, acompanham?

– Já estão a sua espera, ansiosos.

– Data de fabricação?

– Como vai se chamar, mesmo?

– Maria Eduarda.

– Legal, o Chefe vai gostar, o nome da Sua Mãezinha. Põe aí então uma data especial. Pode ser no dia das mães, mesmo.

– Parto normal ou cesariano?

– Na-tu-ral! Ordens expressas da mãe. Vai por mim, melhor não contrariar…

– Lembra que o planeta está doente, né? Posso concluir mesmo assim?

– Deixa eu ver… peraí… agora sim. Aprovado. Pode concluir. Quem sabe se não é esse amor de Maria a vacina que vai curar o mundo. Leva pro Chefe assoprar.

– Vai, Madú, faz uma figa e pensamento positivo!

 

Madú

 

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