Paródia de “O mundo”, Eduardo Galeano
Uma mulher da aldeia de Nagué, no litoral norte gaúcho, perto da praia da Solidão, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, após alguns pormenores, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse, depois de outros pormenores, que somos um mar de olheiras mascaradas, crivadas de gotículas.
— O mundo novo é isso – tergiversou e, por fim, revelou — Um montão de olheiras, um mar de máscaras, crivadas de gotículas.
Cada olheira brilha com gotículas próprias entre todas as outras. Não existem duas olheiras iguais. Existem olheiras grandes e olheiras pequenas e olheiras de todos os tons.
Existem olheiras de tanto sereno, que nem percebe o tempo, e olheiras de viradas loucas, que enche o ar de alinases. Algumas olheiras, olheiras bobas, não marcam nem denunciam; mas outras escancaram uma vida de tamanha volúpia que é impossível olhar para elas sem pestanejar, e quem chegar perto não prega mais o olho.
Muito bom, Tiago!