Se você está lendo isto é porque de alguma forma sobreviveu até aqui a este “ano que jamais começou”. E, por isso, pela sua saúde, dou graças. Também porque perder leitores em uma época dessas, assim, tão delicada, pode ser mortal. Com o perdão do trocadilho funesto.
Nós que já tivemos os “anos dourados”, década de 1950. Já passamos pelo “ano que jamais terminou”, o de 1964. Os “anos de chumbo”, durante a ditadura militar. O ”bug do milênio”, na virada do ano 2000, que foi uma espécie de fim do mundo que ninguém foi convidado. E agora, é claro, 2020, o “ano da peste”, “ano da besta quadrada”, do “coisa ruim”, ano da “fraquejada”, do “filhote de cruz credo”, ano da “doença”, do “negacionismo”. E também, sabem todos, ano da pandemia de Covid-19.
Mas você sobreviveu até aqui, apesar de todas essas pragas, com toda a dificuldade imposta pelo planeta e seus senhores, acima de qualquer plano de governo, ou programação da TV aberta, para além das telenovelas, séries e reality shows de culinária, superando inclusive textos enfadonhos e descompromissados como este.
Sinta-se, portanto, uma pessoa que merece o paraíso. Mas não esse paraíso que estão vendendo em alguns templos religiosos. Refiro-me ao paraíso, mesmo, com ar condicionado, limonada siciliana, massagens, biblioteca e tudo.
Paraíso de verdade, onde é sempre quinta-feira, véspera de feriado e sopra uma brisa oceânica. No paraíso, que dizem ser lá pros lados de Maragogi, os pés sempre descalços, água de coco e uma única rede móvel, pra lá e pra cá, pra lá e pra cá… À sombra de um visgueiro gigante.
Mas, se você está vivo (graças), com saúde e disposição para ler meus textos, já com dezembro apontando na esquina, e vê uma vaga possibilidade de que este ano comece agora, nos acréscimos, e que, com esperança imensa, finalmente termine no 31, conforme acordado no calendário, então você é um otimista de plantão.
E otimistas de plantão merecem não só um paraíso, mas um paraíso particular. O que inclui chimarrão e tudo que tem no paraíso. Mas sem receber notícias do mundo exterior, parentes ou vírus de qualquer espécie, nem textos enfadonhos e descompromissados como este. Um paraíso! Só pra você. Você merece. Obrigado, de nada.
Vou lá, no paraíso, com prazer. Mas só se for para nossos reecontros! Abração!