Prefiro de manhã bem cedinho. O sol, depois de varrer a minha mesa de trabalho, atravessa a persiana que vira uma imensa peneira a salpicar um universo infinito, só meu. Escrevo porque não sei.
Os dias nublados também me favorecem, não por serem mais melancólicos, não só por isso, é que então posso escancarar o vitrô. Corre por aqui um páreo de galgas virações, desorientadas e sem coleira. Escrevo pelo sufoco.
Já toquei no pelopluma de uma brisa mansa, quase uma aragem, um soprinho. Olha que ainda me agarro no rabo de algum minuano. Ou defenestro a galope na cacunda do nordestão. Escrevo ao vento que levou meu verso embora.
Quando é chuva que nos desperta em aplausos, café preto, músicas sem palavras, arrumar gavetas, agendas e calendários. Escuta, é o relógio, seu chicote, açoitando o tempo. Aliás, pra onde vão as horas que passam?
Sim, responda: para onde vão elas?
Excelente, Tiago. Sempre!