Escrevo enquanto o sol ainda espia das bordas do horizonte, aos poucos, bruxuleiam luzes a salpicar janelas entreabertas, o sono urbano desfaz suas amarras, os primeiros carros, vultos pedestres, um cachorro enrodilhado aos pés do banco da praça, todinha esbranquiçada, sobre um véu de sereno da madrugada, faz frio, o céu caiou de roxo e lilás, não há nuvens, uma brisa em vórtice desperta sacolas plásticas e embala as copas das árvores em seu balé de alvorada, dormem ainda as crianças e os justos, há um demônio de motocicleta pelas ruas, dispensa a máscara protetora, seduz nossos parentes, ingênuos ou adoradores?, já somos quase quinhentas mil saudades, o pavor espreita agachado na sombra de uma lata de lixo, ri sem um dente na boca, é preciso girar a roda da economia, dizem os entendidos, o sol, enfim, boceja com hálito quente e derrama a sua cabeleira loira sobre as casas, ruas e parques, é dia de São Pega, beijo as meninas, engulo o café sempre igual, a chave na porta, o sinal da cruz, o rosto coberto, meus olhos pujantes, no peito, o coração diminuto, coragem e uma esperança imensa. Amanhã vai ser outro dia…