“… é por isso que eu preciso que vocês se levantem que abram os olhos e façam alguma coisa!”.
Espetáculo sublime, profundo e sensível!
O vídeoteatro, protagonizado pela inquieta Deborah Finocchiaro, dirigido por Jardel Rocha e com dramaturgia de Thiago Silva, fez sua estreia ontem e fica disponível (https://youtu.be/NTg1vdG8r1A ) em temporada que segue até o dia 14 de setembro.
O projeto, que foi viabilizado pela Lei Aldir Blanc, é uma parceria da Coletivo Nômade de Teatro e Pesquisa Cênica com a Companhia de Solos & Bem Acompanhados.
Embora o ponto de partida sejam pesquisas sobre a exclusão de pessoas em instituições manicomiais, a obra acaba por abordar, de modo mais abrangente, outras violências estruturantes da nossa sociedade.
“Estrutura social irregular e autoritária que se esconde sob a face altiva e benevolente”.
Edição, sonoplastia, texto, trilha, iluminação, tradução em libras e uma atuação irreparável dão conta de narrar às histórias de pessoas que escapavam de certos padrões sociais, sendo vítimas de negligências e maus tratos. “Mães solteiras, jovens adolescentes que transavam antes do casamento, prostitutas e toda a sorte de pessoas que não se enquadravam no ‘normal’”, explica o dramaturgo Thiago Silva.
“Se vocês ainda não sabem, eu tô avisando, eu não sou boazinha, eu não sou queridinha, eu não sou mulherzinha, não sou mãezinha, eu não sou nenhum diminutivozinho dessa gramática de horror, essa gramática podre de desrespeito, desumana, desumana, tão desumana…”.
Para a edição do Matinal Jornalismo, Deborah conta que sua interpretação tem mais a ver com incorporar vozes: “É mais um arquétipo ou representação das figuras que vivem esse drama, que têm suas vidas ceifadas por não estarem dentro de um padrão. Qualquer um de nós, dependendo do contexto em que estivesse inserido, poderia ser considerado louco e ser eliminado”.
O nome do espetáculo nos remete ao livro “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, nele o autor traz a ideia de que o povo brasileiro é cordial, amigável, festivo, hospitaleiro e que lida muito bem com as diferenças. A história do nosso país, porém, mostra que, muitas vezes, o lugar do diferente é o distante, o recluso e, de preferência, mudo.
“São as mesmas grades, as mesmas janelas da casa grande… pensam que sabem tudo, que acumularam as melhores qualidades dos seus antepassados, mas não se dão conta de que podem ter acumulado os piores defeitos… Grades são sempre grades, mas uma porta pode ser muita coisa. Muito tempo diante de uma porta fechada e já não sabemos mais a diferença entre uma porta e uma grade”.
Obra pujante, de uma sinceridade que nos acerta feito um tapa na cara da hipocresia. Deborah em sua melhor forma, transborda sua paixão e empresta o seu talento para dar voz aos silenciados pela história.
Sublime! Sublime! Assiste lá e me conta.
PS: usando fones de ouvido a experiência é mais intensa.
FICHA TÉCNICA
Ideia Original e Dramaturgia: Thiago Silva
Concepção de Encenação e Direção: Jardel Rocha
Atuação: Deborah Finocchiaro
Trilha Sonora Original: Angelo Primon
Iluminação: Everton Wilbert Vieira
Figurinos: Deborah Finocchiaro e Jardel Rocha
Chapéu : Rosina Duarte
Assessoria de pesquisa: Gabriela Touguinha
Tradução para libras: Celina Nair Xavier Neta
Edição e finalização: Jardel Rocha
Produção do projeto: Jardel Rocha
Assessoria de imprensa: Bebê Baumgarten
Parceria cultural: Nômade: Teatro e Pesquisa Cênica e Companhia de Solos & Bem Acompanhados
Apoio: Fundação Ecarta, FM Cultura – 107.7 e Rádio Univates FM 95.1