Aproveito este espaço e seus hoje, sei lá, três leitores (beijo, mãe) e me solidarizo com o professor Luiz Maurício Azevedo, um dos nossos maiores críticos literários, o maior, com certeza, quando a pauta é literatura negra, que foi hostilizado por um grupo na rede antissocial do passarinho azul… não, não, usemos as palavras certas, foi ameaçado por milicianos digitais organizados no twitter, na tentativa de constrangê-lo por, acreditem, ter feito o seu trabalho, a crítica de uma obra. Não, olha, realmente “não há o que não haja”.
Na crítica do livro “Homens pretos (não) choram”, do escritor Stefano Volpi, reeditado pela HarperCollins, Luiz Maurício aponta que o autor “se perde na adoção de uma voz autoral que se pretende poética mas que se apresenta insegura, pueril e sem repertório”. Aqui pensei que estava falando da minha escrita, mas, não, é mesmo sobre o livro do Stefano, e prossegue: “Já nas primeiras linhas o autor deixa clara a essência anêmica do seu texto… outras partes soam ingênuas, formas infantilizadas de retratar a masculinidade”.
Vejam, o professor Luiz Maurício, que é um homem sensível e educado, usou dos seus recursos tantos e técnicas acuradas em anos dedicados a leituras e estudos literários para nos dizer, com extrema elegância, que o livro é uma m… É ruim, má literatura, em suas palavras, aquela que não questiona e nem diverte, permanece na superfície das coisas não por fruto de uma escolha, mas de uma carência. Na sua visão, Stefano fracassou nessa obra, fato que não proíbe eventuais acertos no futuro. Oh, aprendi mais essa com o professor.
“não gostar, discordar da posição do crítico, faz parte, é do jogo, agora, desejar a morte do amiguinho, sugerir tortura, insultar a família, ode estamos, em uma reunião ministerial?”
Crítica literária não é propaganda. Não é tuíte. Confunde-se isso com frequência. Então, não gostar, discordar da posição do crítico, faz parte, é do jogo, agora, desejar a morte do amiguinho, sugerir tortura, insultar a família, ode estamos, em uma reunião ministerial? Bom, não me surpreende. Vamos para o terceiro ano da peste, que assumiu em 2018, e nessa distopia toda a cafonice é permitida. Precisamos lutar com paixão “Por uma literatura menos ordinária”, que, aliás, é título do livro de crônicas vencedor do prêmio Açorianos de Literatura deste ano, de autoria do próprio Luiz Maurício Azevedo.
Esse ainda não li. Mas tenho em mãos “Estética e raça: ensaios sobre a literatura negra”, da editora Sulina. Nesse livro, o autor aborda o tema seriíssimo que é o apagamento da historicidade negra em nosso país, assim como a inexistência de uma crítica literária robusta e plural. Usa num tom debochado e com viés confessional, rico em argumentos muito bem ilustrados a partir de situações do cotidiano vivenciadas por todos nós. Uma leitura necessária para entendermos o que está por traz de situações absurdas como essa que enfrentou o professor Luiz Maurício, em plena atividade do seu ofício.
No momento em que um tal de Vladimir pode detonar a terceira guerra mundial, discordar do outro sem desejar a sua eliminação é um ato civilizatório. Mas como duvidar se o professor Luiz Maurício Azevedo sabe ou não sabe das coisas, me digam, o cara é colorado, somos da mesma idade e, conforme ele mesmo expôs no seu livro, em relação a minha, tem o dobro de dinheiro em conta corrente, é casado com a jornalista e poeta Fernanda Bastos, com quem dirige a editora Figura de Linguagem, curte all star de cano alto, jazz, boa literatura e vinhos chilenos, entre outras paixões, não nessa ordem. Sério, tem com não amar um cara desses?
Muito bom, Tiago!
tu leu o livro do Volpi?
Não li ainda, Narthallia. Mas deu mais vontade de ler agora que “demonizaram” a crítica do Luiz Maurício Azevedo, meu crítico favorito. Se tiveres, me empresta?
Bjo.
😉