Não sei se já disse isso aqui, mas não custa lembrar. Já tentei ganhar a vida como jogador de futebol. Sim, no país onde todo o menino sonha em ser um famoso jogador de futebol, cheio de títulos, eu também fracassei nisso miseravelmente. Depois de anos sendo atropelado pelas circunstâncias, decidi ganhar a vida como escritor. Mas não qualquer escritor. Seria eu o escritor menos lido da história da literatura. E esse título ninguém me tomaria.
“Não ser lido. Tá aí uma coisa em que seria bom de verdade”.
Aí sim, num país onde simplesmente não se lê, faria sucesso imediato. Minhas crônicas alcançariam índices de desconhecimento fora do comum. Incrível o número de pessoas que jamais teriam contato com os meus textos. E só aumentaria. Não ser lido. Tá aí uma coisa em que seria bom de verdade.
E assim estava eu, sendo muito bem sucedido com a minha invisibilidade literária, distraído entre uma flopada e outra, confortável e quentinho na minha bolha de não leitores ideais até que os amigos, sempre eles, espetaram meu ostracismo voluntário com a ideia de lançar um livro. E mais pessoas leriam esses disparates? Nem pensar. E o meu título, como fica? Jamé!
Bom, vocês sabem como são os amigos quando querem te convencer de alguma coisa. Mesmo que seja uma coisa bem estranha, tipo: lançar um livro em plena Pandemia, durante uma ameaça de guerra mundial, em ano de eleição e Copa do Mundo. Não me surpreenderia se eu mesmo não fosse ao lançamento. Mas como não gosto de contrariar meus amigos, aceitei o desfio.
Então já sabem, por incrível que pareça, vai ter livro do Maria em breve. E posso garantir: só se fala noutra coisa. Vai ser difícil o pessoal se acostumar a não me ler em livro físico. É muito tempo escrevendo pelas janelas. Sei não, isso de botar nossos sonhos no papel acaba deixando a gente mole. Agora me falta o título? Dai-me um título, meu São Benedito!
Tiago, certamente estarei no lançamento de seu livro. Muito boa esta propensão em ser o escritor nunca lido por ninguém, é – realmente – um sonho para muitos, impossível, porém, em se tratar de você, que escreve maravilhosamente bem. Quem sabe vem por aí o livro de crôncias “Só se fala noutra coisa, a incrível façanha o escritor nunca lido”. Aguardo, parabéns e abraço!