Aqui um mentiroso profissional e fiel quebrador de promessas. Mas dessa vez – Ah! Dessa vez… -, serei sincero, prometo. Acontece que não adiantou fechar os olhos, ou escutar Nei Lisboa, me fixar em alguma cena através da janela do ônibus, nem a lavagem da louça deu conta de arear um assunto pra hoje. Por isso, e por outros motivos que não conto aqui justamente pra não mentir, juro, não vai ter crônica. Só esse texto remendado e triste, tipo trinado de trinca ferro em gaiola de vime.
É que tudo tá tão esquisito, ou será que sou eu? Olha que é bem provável. Com frequência nos ambientes que frequento, de fato, via de regra, sou o mais invulgar. As pessoas me olham assim com uma cara, sei lá, tipo, “que cara estranho”. Lembro sempre de um coleguinha da Maitê que me puxou pela mão até a sua altura, me encarou fixamente, depois cochichou no meu ouvido: “tu tem cara de lobo”, enfiou o dedo no meu olho e saiu correndo. Tão tá, né? Diz que criança não mente.
Eu ia dizer que ainda tenho esperança, mas prometi não faltar com a verdade, não hoje. E vou cumprir a promessa, pelo menos até o final desse texto. Será?
Nem precisava tudo maravilhoso, normal já tava bem bom. Mas o que é normal? Normal pra quem, cara pálida? “Cara de lobo”. Digo normal tipo as pessoas conseguindo trabalhar com dignidade, comprar comida sem restrição, saber que voltarão pra casa em segurança, antes disso, ter uma casa, conforto, respeito além do mais, amor acima do tudo. Eu ia dizer que ainda tenho esperança, mas prometi não faltar com a verdade, não hoje. E vou cumprir a promessa, pelo menos até o final desse texto. Será?
Então não venho inventar história. Derramo aqui minhas verdades assim, no seco. Um exercício de escrita enquanto o mote não pousa num fio de pensamento. Daí que era mesmo tudo mentira profissional esse papo de não ter assunto. O já batido recurso de escrever sobre não ter sobre o que escrever. Encerro a tempo de manter a tradição quebrando mais uma jura, visto que, sim, teve crônica, vulgar e melancólica, mas teve.
Tão normal parecer incomum, Tiago. Tão…
Abraço!
Tiago, “É que tudo tá tão esquisito, ou será que sou eu?” Ambas as conclusões. Somos parte deste tempo “sem saber-para-que-quem-somos” e o que desejamos para os outros estão, também, em nossos próprios sonhos. É que a estranhesa está nela mesma, quer dizer, se tudo estiver normal (dentro e/ou fora) está esquisito. Bom ler seus textos, meu amigo “lobo bom”, abraço!
Agradeço a leituro e os comentários sempre generosos, mestre. É verdade, a estranhesa está nela mesma. Um forte abraço.