Picareta, picareta, picareta… Pensa num cara picareta. Óbvio, não me refiro aqui a ferramenta: instrumento que consiste em uma peça de ferro com duas pontas aguçadas, que se prende a um cabo geralmente de madeira e serve para escavar a terra, arrancar pedras etc, conhecida também como: picão. Falo sobre a picaretagem em si, no sentido de pessoa que age com má-fé ou se comporta de modo condenável para obter o que deseja, conhecido também como: vigarista.
Se bem que esse picareta em especial tem até as feições do instrumento. A cara bicuda, nariz pontiagudo, magro feito um cabo de madeira de lei, só que fora da lei. Não há o que não tenha pra negócio. E se a coisa não estiver ali com ele, sabe quem tem, na quantidade necessária, no tempo que for preciso. Mediante uma comissão, claro. Com total segurança, lógico. Aliás, ao concluir um negócio a frase surge tão espontânea que não dá pra saber se é verdadeira ou deboche, ¨la garantía soy yo¨.
Esses dias apareceu no grupo anunciando camarão congelado – meia nota. Aí começou uma discussão, ¨tá, mas é camarão, camarão, mesmo, do graúdo, sete barba, ou o camarão, camarão do verdin, do cabrobró?¨. Até definirem que era camarão o bicho, de comer, e não camarão a erva, de fumar, já tinha gente encomendando quilos e quilos. Só pra consumo, evidente.
Dizem que a especialidade do picareta é vender carro usado, bem usado, mas com aspecto de novo, bem novinho, “nãão, esse capotou mas foi na grama”. Mas tá com o número do chassi raspado, “isso é detalhe que se não for polícia ninguém percebe”. Uma porta de cada cor, “tendência”. Não tá ligando! “Esse é manhoso, mas pega no tranco, o segredo é estacionar sempre em lomba”. E a chave, não tem chave? “Só ligação direta, mas também, né, por essa pechincha, queria o quê?”.
Lembro quando precisei de umas peças pro carro, bem difíceis de encontrar, e resolvi passar lá no escripósito (escritório + depósito) do picareta pra tirar uma febre, “tá, mas essas aqui, assim mesmo, como estão, quanto vale?”. Cofia a barba, mexe nas peças e faz uns cálculos mentais, “olha, no justo, no justo mesmo, vale uns seiscentos conto. Na minha mão, assim, pra ti, lança aí uns cem pila e leva todas que vai “bombá”, lá garantía soy yo”. Levei. Tô até hoje andando de ônibus…
Poxa! São tantos por aí…
Não é boa recordação, mas é bom avisar.
Sim, Altino, é raro mas acontece muito.
Agradeço a leitura.
😉