“Só não devo a mim mesmo por falta de crédito pessoal.”
Antônio Maria
Ainda não paguei a promessa que minha mãezinha fez praquele anjo safado, o chato dum querubim, se eu encarnasse com saúde. À fada do dente também estive a dever alguns de leite. Devo meu apartamento, o condomínio, a fatura do telefone e a net. Na tesouraria da escola das crianças, assim como na cantina, em débito. Tenho dívidas na receita federal e não venho pagando pensão alimentícia. Estou já há uns três meses devendo satisfações aos agiotas.
Devias ter visto a cara do meu gerente quando pedi outro empréstimo a juros módicos. Não paguei ainda a conta do hospital onde nasceu meu filho, esse que vai servir o exército por agora. Um passivo me emociona deveras, fiquei devendo, mais de uma vez, na casa das primas e nunca, nunca me protestaram. Sei que não devia escrever essas coisas aqui, mas tenho uma dívida moral eterna com o pessoal da luz vermelha. Puta consideração.
Perdulário. Inadimplente. Devedor solidário. Fui avalista na imobiliária pra alugar o apartamento do Alceu, que não pagou, nem eu. Ando em falta com as minhas obrigações de homem (semi)branco, casado, heterossexual, cidadão, urbano, não pagador de impostos. Creio que estou devendo uma visita ao psicólogo, ao dentista e a minha afilhada.
Devaneios de um devedor de verdade. Existe uma regra no mercado financeiro, somente uma: quem entende de juros, os recebe; quem não entende paga. Eu não entendo nada de mercado financeiro, nem de juros. Deveria, mas não entendo. Devia ter seguido os conselhos aqueles gratuitos, que, fossem bons, mesmo, seriam pagos. Ficaria assim devendo bons conselhos a alguém.
Sei que deves achar absurdos, mas, espere, pois, pra ver meus direitos.