Porto Maria Alegre

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Uma dupla efeméride, bem neste mesmo hoje, revira as lembranças e ativa de vez o modo nostalgia no grosseiro rapaz que vos derrama esta prosa sentida, saudosista e pobre, porém, honesta e limpinha. É que minha Poa e minha Maria, ambas já bem velhinhas, leais e valorosas, há muitos outonos que andam nas ruas, quase sempre alegres, das minhas memórias.

Duvido quem não tenha na família uma Maria pra chamar de sua. A minha faz noventa e três hoje. Junto com Porto Alegre, um pouco mais experiente. Em que momento começamos a deixar de visitar nossos avós com a frequência que eles merecem? Quando é mesmo que as benzeduras e as receitas mágicas perdem o encantamento? Um belo dia a gente arqueia, enruga, vira avô e sente na pele já fininha.

Este Porto, de onde desbordam meus versos, não é nem de longe a cidade que conheci menino. Eram tempos de outras cores. Uma velocidade contida. Conversava-se, olho no olho, pelas esquinas, mandávamos cartas e tínhamos vizinhos dos quais sabíamos os nomes e tudo. O Minuano, invisível, quase sem fôlego, assovia na rua da praia e recolhe alguns trocados num chapéu velho. E há quem garanta que o sol, constrangido, mergulha no Guaíba cada vez mais depressa.

Minha Maria, que para meu regozijo também é Antônia – igual meu Antônio Maria – diz que só teve um amigo na vida, que este lhe deu seis filhos homens e morreu, aos quarenta e poucos anos, sem conhecer nenhum neto. Criar sozinha seis filhos é uma força que nos alerta, um dom, certa magia. É preciso, mesmo, ter força, raça e gana, sempre, além, é claro, de uma estranha mania de ter fé na vida. Maria, Maria.

Cidade que aprendi a querer bem. Os dias que ainda tenho na garupa do tempo, quero impregnar com a tua luz. Deixo aqui, nesses garranchos, meu carinho, respeito e um orgulho imenso de ser teu filho.

Vó, mãe do paizinho mais amado do meu mundo, tu que carregas no corpo as marcas de ser Maria, Maria, e que mistura nos olhos a dor e a alegria de ser Maria, Maria, saibas que não dorme uma lua sem que eu enfrente os meus medos, desconfie das minhas certezas e perdoe enganos, para assim, vó, minha Maria, me tornar digno de ser teu neto.

Felicidades, vó, parabéns meu Porto Alegre.

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