Minicolo

Seu Alberi faz hoje 67 anos e um ciclone explosivo acaba de levar pelos ares todas as palavras bonitas que eu tinha empilhado para entregá-lo por aqui.

Ouço-o dizer/gritar: travou essa pilha, Tiago? Si… Sim, claro, pai…

Mas o que eu queria, mesmo, era envolvê-lo em nosso silêncio íntimo.

Agora me sobraram só alguns pronomes secos e pontudos, farelos de parágrafos e essas cascas de frases despedaçadas.

Faço um montinho aqui pra ver se aproveito algum verbo irregular, um adjetivo embolorado, uma interjeição torta que seja.

O problema é que a chuva ensopou os meus melhores versos. As rimas internas simplesmente esfarelaram.

Não encontro uma sequência coerente de texto, um argumento coeso, não consegui salvar nenhum parêntese.

Escoro gravetos sintáticos, derramo um galão de prosódia inflamável, retiro as vírgulas úmidas e ateio fogo.

Agora sim, pai, podemos nos aquecer e escutar a chuva sem falar nada, só abraçadinhos, eu encosto a minha cabeça no seu peito e o senhor me aperta forte mordendo a língua.

Pronto, tenho de novo seis anos e sou o menino mais quentinho, amado e seguro do mundo.

Obrigado, pai.

Feliz aniversário.

Soberi

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1 comentário em “Minicolo”

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