Não sei vocês, mas, eu, sou contra isso de morrer. Não tenho estômago, sabe. Não me apetece. Se os meus planos derem certo, ainda nessa vida, fico vivo pra sempre.
Fora o ritual de sepultamento que acho cafona e antiquado. Pranto abafado, pestilência de flores e velas, mulheres em crise de choro compulsivo (no meu enterro, sim), amigos a recordar virtudes que eu nem tinha… Agradeço as deferências, mas, tô fora!
O plano é continuar por aqui, não importa no que este aqui vai se transformar. Com ajuda da ciência, algumas precauções e doses diárias de sorte preventiva, alcanço a minha meta de eternidade.
Fato é que está bem difícil viver, a alternativa, porém, ninguém sabe. Por exemplo: temos livros do outro lado? Música? Café preto com cuca torrada, temos? Boletos, tem boleto pra pagar no paraíso? Essas coisas ninguém nos conta!
Não voltaram pra nos dizer, pois não podem, ou será que estão todos muito ocupados ouvindo as trombetas apocalípticas, lendo poesias na língua dos anjos e sorvendo um pretinho passado nas nuvens com pão de casa e requeijão celestial? Não se sabe.
Na dúvida, fico por aqui mesmo. Meu propósito é continuar saudável e ativo, física e mentalmente. Respeitar as indicações dos especialistas, refutar as ideias de jerico dos negacionistas e não propagar as desorientações demenciais, digo, presidenciais.
Há, entre nós, os que já morreram faz tempo e não se deram conta. Sepultaram sonhos. Desistiram de si mesmos. Enterraram-se em mágoas e rancores.
Eu sou a favor da vida – quero uma vida imensa – enquanto estiver vivo. E você?