É madrugada ainda enquanto a bicha do 520 serpenteia entre os vãos do terminal Triângulo. Tivesse um guizo na cauda e faria, ao fundo, uma bela paisagem sonora. Passos curtinhos, apertados, marcam a cadência até o embarque definitivo da comissão de frente na “minhoca de metal que corta as ruas”. A catraca faz às vezes da caixeta: tec-terec-terectec-terec-terectec, acompanhada pelo tilintar do vil metal na gaveta do já quase extinto cobrador. “Mais um passinho, por gentileza!”. O baile é de máscaras, uso obrigatório. Até minha estação primeira, janelas semicerradas. Direto da velha guarda, mestre-sala e porta-bandeira tem assento preferencial. A cada paradinha da bateria, o coração desfalece, vai chegar… tem que chegar… olha o tempo… tem carro estragado ali na frente, “vai descer na próxima aí, por, favor”, “oh abre alas que eu quero passar”. Tamborila uma goteira no assoalho. O freio a ar faz a cuíca. Braço pra fora, alguém marca o compasso no bumbo da lataria. O mestre motora buzina contrariado. O puxador agarra a cordinha da campainha sem dó, atravessando o enredo. O Sol já aparece na evolução, bordando lantejoulas douradas com a linha do horizonte. No retrovisor, cada bloco exibe seu luxo e originalidade. Fiscais anotam os (es)quisitos de acordo com a sua categoria. É terça-feira de cinzas. Final da linha. Todos na busca de seus respectivos barracões. Vai começar a folia de verdade. Enfim, apoteose e dispersão.
Maravilhoso, maravilhoso! Nota 10 em todos os (es)quisitos!