Não. Isso não é uma publicação repetida. Tenho sim ainda outra filha, a Maitê, essa que alcança agora, terça-feira, o ápice dos seus oito anos. E, claro, virou pretexto de paicorujacronista. Desejado esse aniversário. Intensos oito anos da Maitê. Pra terem uma ideia, hoje mesmo, na efeméride, ostenta um gesso todo autografado no braço direito, consequência de uma fratura no pulso. “Tava subindo a escada bem de vagarinho na escola, pai, juro!”. Sim, filha, imagino…
Digo intensos oito anos da Maitê porque tudo o que lhe envolve é vigoroso, frenético, ritmado, cheio de delicadeza e método. E obedece a uma ordem estabelecida por ela mesma que respeita critérios inegociáveis.
Por exemplo: só toma leite de colherinha, um tilintar muito, digamos, exótico às 7h da manhã, que vai até a última gota no fundo da xícara; Não dorme, em hipótese alguma, sem escovar os dentes, mas se recusa a colocar a pasta na própria escova; Jamais esquece o horário quando precisa tomar remédio. Lê os livros que retira na biblioteca no mesmo dia, durante a aula. Tem gana de apertar a pele que sobra em nossos cotovelos; Não encosta em celular que está carregando; coisas assim.
“…foram esses que passaram agora bem diante dos nossos olhos incrédulos, os oito anos mais rigorosos que enfrentamos, podes ter certeza, de maiores ensinamentos também, de privações tantas, anos de poucas palavras, muito cansaço e olhares cúmplices…”
Em 2013, quando ela nasceu, até hoje não sei como, bom, sei sim, uma mulher governava o país, financiamos nosso apartamento. Em 2016, então com três aninhos, veio o golpe, frontal, incisivo, caiu de testa na quina de um banquinho de madeira: quatro pontos vivos entre as sobrancelhas e um hematoma amarelo arroxeado que a deixou um tempo com a aparência do que convencionamos ser uma mini Frida Kahlo zumbi. Pra completar, um presidente Vampiro. 2018 e assume o Capetão. 2019/20/21, Pandemia Mundial. Alfabetização com aula remota, isolamento, máscaras, álcool em gel, enfim, vejam, são só oito anos e uma vida inteira pujante.
Filha, amada, Maitóca do pai, fiapo, fedorzinho nosso, foram esses que passaram agora bem diante dos nossos olhos incrédulos, os oito anos mais rigorosos que enfrentamos, podes ter certeza, de maiores ensinamentos também, de privações tantas, anos de poucas palavras, muito cansaço e olhares cúmplices, de resgate dos nossos valores mais essenciais.
Contar contigo fez toda a diferença, dia após dia. Não perca esta essência que anda em falta. As coisas se recompõem, filha, nós também, quando vê tudo passa, cola de novo, cicatriza e a gente só lembra o que foi bom, como ter ainda oito anos, saúde sobrando, amor sem medir tamanho e toda a esperança de um mundo melhor. E será, filha, será… Feliz aniversário!