Ascenda um (baseado em fatos)

(Assim, edição, com “sc”). Não sei se alguém já iniciou uma crônica com parênteses. Se não, agradeço a oportunidade de fazê-lo. Diferente do que – aposto -, pensaram os mais empolgadinhos, com esta crônica – posso provar -, vim tratar de elevação, falar em subir de nível, elevar, “vim pra sabotar seu raciocínio / vim pra abalar seu sistema nervoso e sanguíneo”, por isso que ali no título vai assim mesmo, com esse e ce. Já no que tange (adoro “no que tange”, mais uma vez agradeço) os fatos nos quais me baseio, esses sim, perceba, foram colhidos à sombra da mais fina fonte: as vozes da minha cabeça.

Ouvi de algumas pessoas entendidas (e caretas) que os aforismos, ou, trocadilhos, como queiram, assim como as paródias, estão entre os mais rasos recursos linguísticos. Perdão, pessoas (caretas e) entendidas, mas discordo com paixão. Palavras homófonas, quando colocadas com astúcia (não é o caso aqui), podem provocar esse efeito, alguma coisa ligando curiosidade, confusão e graça que nos faz querer ir além, saber do que se está falando, desvendar o código. Por vezes, nos faz pensar, ou, no mínimo do mínimo, pode ter levado algum maconheiro a ler o texto até aqui, o que já me serve.

Mas quando uso “ascender um”, ou seja, projetar para cima (ou subir pra cima, para os que gostam de “queimar” um pleonasmo), refiro-me a um livro. Colocar os livros em patamares elevados nem é coisa nova. Basta lembrar dos tempos pandêmicos (bate na mamadeira), quando endereços eletrônicos para lives, links de meets e reuniões online brotavam em nossos ecrãs feito ervas daninhas (ia escrever “ervas danadas” mas me censurei em tempo). Tivemos então a chance de expor nos fundos de tela os símbolos de sucesso da nossa sociedade, tipo: montanhas de dinheiro, carrões, corpos esculturais seminus…, mas não, o que de fato aparecia, via de regra, eram, adivinhem: livros.

“Estamos fabricando o passado dos que ainda nem nasceram”.

Ascendemos os livros como status de conhecimento, condição de prestígio, como se uma biblioteca desse o respaldo necessário para as nossas falas, “olha, não sou eu quem está dizendo isso, não estou sozinho, bebi de um conhecimento anterior, aprendi com as narrativas e experiências de outros pensadores, me “baseei” neles”. Entendo que a nossa energia deva estar focada em formar novos e bons leitores, não em censurar livros. Estamos fabricando o passado dos que ainda nem nasceram. De que maneira vamos explicar que, em 2024, gestores públicos ainda proibiam leituras? Fumou o quê, esse pessoal? Bem, como bom transgressor, vou ascender o meu e curtir a viagem.

*texto publicado na revista RUBEM.

http://rubem.wordpress.com

13/02/2024

 

 

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