Temer a queda

 

Caiu. Caiu. Agora Caiu de vez. Não tem mais volta. Pode puxar os aliados lá da extrema direita ou dá extrema esquerda que não consegue mais disfarçar o buraco enorme que ficou escancarado. Não se esconde algo assim tão nítido. Virou uma clareira. O melhor a ser feito é assumir de vez. Foi dando entrada, dando entrada e olha o que aconteceu. Aquele emaranhado todo só podia dar nisso. Definitivamente, um problema lá na raiz. A queda, nessas circunstâncias, é inevitável, inevitável. Uma questão de tempo. Bem que tentaram lhe fazer a cabeça. Implantaram alguns tufos de duvidosas fontes. Tentaram um progressivo relaxamento pra valer a pena. Buscaram especialistas de outros países e de nada adiantou. A essa altura, a queda é cada vez mais vista como consequência natural.  Pior é ficar com aquele aspecto que está ali só fazendo sombra. Agarrado até o último fio. O negócio é esfriar a cabeça e, se for pra cair, deixar que caíssem todos de uma vez. Ficar com o rabo preso é a pior escolha. Chega a ser ridículo. Sinceramente, um homem nessa idade com o rabo preso tentando esconder o que todo mundo já viu. Disfarçar como? Não aparecer mais em público? Usar a faixa (que não é sua) enrolada na cabeça? Insistir nos apliques? Não é verossímil. Agora caiu, mesmo, sem volta. O olhar de compaixão dos cabeças pretas, que já foram do mesmo time, é que magoa. Sabem que a hora deles também vai chegar. Tramam enquanto podem. Uma operação pente fino faria devassa. Protegem-se uns aos outros. Isolam os que começam a se expor um pouco mais. Caiu. Caiu. Aceita que dói menos. Já estamos todos daquele jeito de saber. Exposto assim, não fosse um bom protetor o resultado final poderia ser ainda pior. Desista dessas reformas talhadas a facão. Pede pra cortar o que sobrou e que não tem serventia nenhuma. Um homem pode ter medo de ficar liso, só não pode temer a queda.

 

tiago careca

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