Casinha amarela

maninhos

minha melhor versão,

Hoje, ao observar minhas filhas brincando, dei-me conta de que moramos juntos na casa dos nossos pais, os meus maninhos e eu, apenas por uma faísca breve de tempo. Meu irmão e minha irmã são – disparado – os filhos mais lindos da minha mãe.  Tenho uma diferença de cinco anos pra ele e dezessete pra ela.

Deixei a casa dos nossos pais só aos vinte e sete. Sempre que os encontro e é com frequência, depois que me despeço e cada um segue sua urgência, me bate um remorso fininho de não ter me doado mais a eles enquanto do nosso convívio. De no meu egoísmo juvenil, não prestar atenção ao que diziam com aqueles olhares de aprovação que me lançavam, ansiosos de uma aceitação fraternal. Que eu, talvez por descuido ou ignorância, possa ter omitido.

ELE é uma montanha de algodão doce. Forte que é uma rocha e com uma textura de nuvem. O cara que eu queria ser se pudesse trocar meu reflexo no espelho. Cheiro, cheiroso, cheiroso. Amigo até dos inimigos. Traz a paciência atada em fio de lã, puído. Reparte uma retidão de dar náusea em cretinos.

ELA, uma flor de pimenta caiena. Impávida. Dona do seu lugar de fala. Convícta nos argumentos. Cheirosa, cheirosa, cheirosa. Amiga dazamiga. Às inimigas: seus corações em uma bandeja. Traz a paciência… Não, espera, não trouxe, acabou de perder. Transmite uma segurança perene, morena, lúcida e sagaz.

Eu tive tempo, claro que tive. Tive oportunidades, muitas. Não me faltaram situações nem pretextos nos quais que pudesse demonstrar o que sinto por eles. Não tive a sensibilidade, o traquejo, faltou-me foi entrega pra expressar esse amor que, agora, derramo aqui peito escavado.

Meus irmãos, com este laço que nos amarra, nesta força bruta dos seus exemplos, fizeram deste pobre moço, sem dúvidas, uma pessoa melhor. Ai de mim, à deriva nesse marmundo doido, cercado de tubarões, ressacas e tempestades, sem vocês como porto. Vejo minhas filhas brincando e me comove não tê-los abraçado, beijado e protegido com a paixão e a fúria que mereciam. Daí, enquanto escrevo essas esfarrapadas, me prende a garganta e entortam meus lábios, igual vocês, igual nosso pai quando chora. Chora, sim, eu já vi!

Amados meus. Presentes que mãe me deu. Como vocês me doem. Que privilégio. Um milagre. Bilhões de pessoas nesse planeta. Bilhões e bilhões de anos da Terra. E fomos nos encontrar neste espaço – nesse mesmo agora -naquela casinha amarela, onde fomos inteiros durante essa breve faísca de tempo em que eu era feliz e sabia. Vocês são minha melhor versão, sabiam?

 

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3 comentários em “Casinha amarela”

  1. Cara,
    Se eu, que teu irmão não sou, terminei marejado, fico pensando nos manos…
    Lindo, lindíssimo. Cheiros, diria.
    Abraços, Rubem

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