Bilontra

Deve ter, sei lá, uns três, quatro metros da cabeça, larga e chata, até a ponta do rabo, fino e comprido. Uma pelagem grossa e acinzentada, exceto nas patas – nuas. O fuço proeminente de onde espetam os fios do bigode alaranjado. Desaparece num bueiro e ressurge em alguma boca de lobo, às margens de qualquer arroio ou esgoto a céu aberto.

Mistura-se na paisagem cotidiana sem ser percebido. Espreita as rotinas diárias de tocaia na rachadura de uma obra inacabada. Prefere a escuridão, as sombras, o úmido e fétido como esconderijo. Rói as migalhas dos restos de alimentos, de lixo em lixo. Vive de pequenos furtos e da compaixão de almas ingênuas.

Fareja uma oportunidade de ascender. Apara as unhas e os pelos do nariz. Escova os dentes pela primeira vez em quatro anos. Veste-se com traje e gravata. Diz o que querem ouvir as almas ingênuas. Oferece banquetes e empregos. Promete saneamento e educação. Garante que vai acabar com a violência, com a miséria e a fome.

Em período eleitoral, atravessa a cidade na madrugada alta, margeando a podridão. Oferta ilusões amáveis. Dentaduras, refrigerantes, comida, cocaína e água encanada. Promete a casa própria. Um subemprego qualquer. VT e VR. Tem sempre soluções simples para problemas complexos.

De quatro em quatro anos essa peste invade o sistema eleitoral na intenção de roer o que conseguir do que é público. Para ser bem sucedido, conta com a falta de conhecimento e descaso da maioria. Tem o apoio, incentivo e financiamento dos da mesma espécie. E quanto maior o nosso desinteresse, mais o bilontra se prolifera nos gabinetes, palácios e sessões secretas.

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