Foram os últimos a escrever mil novecentos… nos cadernos de aula. Sabem o que é um bodoque. Conheceram televisão com tubo de imagem. Usaram ficha telefônica em orelhão e ouviram disco de vinil. Tomaram Biotônico para abrir o apetite e óleo de rícino pra curar de prisão de ventre a caspa. Envenenaram mosquitos com a bomba de Flit.
Acham que o homem é o provedor da casa, que a mulher deve se dedicadar aos afazeres domésticos e estar sempre pronta para servi-lo. O prato à mesa, a toalha estendida pro banho a roupa limpa e passada. Estão convictos de que: orientação sexual é frescura; política de cotas é mimimi e sustentabilidade é coisa de bicho grilo desocupado. Querem a volta do Repórter Esso e da Glória Maria. Pensam que os militares estão prestes a salvar o país de uma terrível ameaça comunista.
Eu conto ou vocês contam?
…
Foram os primeiros a escrever dois mil… nos cadernos, hoje, tablets e celulares. Sabem o que é e para que serve uma scrunchie. Só conhecem telefones sem fio. Usam wifi pra baixar app de música, que escutam em fones via Bluetooth. Tomam Yakult pra reestabelecer a flora intestinal e vacinas preventivas.
Acham que “baixar a bola” é um aplicativo. Que o mundo se imprimiu da internet. Estão convictos de que os pais não fizeram a última atualização de software. Dispensam os almoços em família, fogem de praças e parques ensolarados, onde tem muita gente de verdade. Precisam de mais seguidores, muitos crushs e amigues virtuais. Querem os games como esporte olímpico. Pensam que o mundo, assim com está, pode ser salvo nas nuvens e reiniciado com upgrade.
Vocês contam ou conto eu?
Excelente, Tiago! Isso, conto eu!
Combinado, Rubem!