Pane seca

“De mim, a quem desconheço totalmente, falo de cadeira”.

Antônio Maria

Vibro aqui dentro e sinto que todos os meus sistemas são nervosos enquanto escrevo mais uma crônica melancólica e confessional. Permita que derrame assim minhas dúvidas e cretinices cotidianas com frequência exagerada, tem me poupado algumas sessões de terapia – cada vez mais inevitáveis. No rádio, (Jézuis! quem é que ainda ouve rádio?) – “Cadê Tereza / onde anda minha Tereza?”, Jorge Bem. Lembro que hoje ainda não bebi água. Almocei um café preto com Omeprazol.

Não gosto de escrever a base de cólera. Não me faz bem, aliás, atrapalha. Acontece que atravesso dias de enorme aversão por mim mesmo. A cabeça pesa um tanque de guerra, a boca seca, meus olhos entumecidos com isso de afastar quem eu amo por receio de que a recíproca seja verdadeira. Acho sempre que não mereço. Com frequência, não me permito viver o sublime das relações e acabo fazendo absurdos para que não me aturem mais. Até que não me aturam, mesmo. Tipo publicar essas besteiras nas terças. A consciência disso me dá mais raiva.

“no preço que estão as coisas; o capiroto no Planalto; preocupações saindo pelas tampas, um pepino entrando e outro batendo palmas. Sei lá…”

Tratamento com profissional da área ajuda bastante, eu sei, mas cadê que consigo me abrir com os outros sobre assuntos de foro íntimo? Tenho também amigos sempre muito solícitos e carinhos, dispostos ao que for preciso, sem dúvidas, poderia buscá-los sem o menor constrangimento. Então penso que já estão todos exorcizando seus próprios fantasmas; no preço que estão as coisas; o capiroto no Planalto; preocupações saindo pelas tampas, um pepino entrando e outro batendo palmas. Sei lá…

Admito que até mantenho longos períodos de lucidez, claro, sempre interrompidos por exclamações de grandessíssimas bobagens. Apesar de, e acima disso, me considero um cara de sorte, e o mais incrível: eu tenho um plano. Uma pessoa assim não devia sair por aí, à procura de perguntas e amor. Perdoe leitor, o fato de eu ter falado, mais uma vez, de mim. É que consigo narrar bem direitinho quando descrevo o bocó inconstante que existe dentro deste homem. Me queira bem. Preciso mesmo de um copo d’água. Não sei se termino esse texto.

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2 comentários em “ Pane seca”

  1. Gilmar de Azevedo

    Tiago Maria, continue escrevendo sobre você, também é de nós. Somos uma só comunidade “brasileira”, com o mesmo capiroto. A reinvenção é necessária. “[…] Tipo publicar essas besteiras nas terças. A consciência disso me dá mais raiva […].” Raiva nem sempre é ruim, “desobstrui o fígado”, como escreveu Monteiro Lobato. Publique também na segunda, quarta, quinta, sexta. Sábado e domingo não, estes dias de trabalho são somente para os professores. Abraço!

    1. tiago maria

      É sempre muito bom ler o senhor por aqui, professor, agradeço a generosidade nos comentários.
      Desejo um bom descanso no recesso dos estudos.

      Forte abraço,

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